segunda-feira, 19 de abril de 2010

Narciso das Fossas


O Narciso! O das Fossas, pode ser um qualquer produtor suinicula português. Pode ser um produtor de porcos ou de outra qualquer coisa, esta pintura é uma espécie de metáfora. Represento um senhor que se apaixona por si ao ver o seu reflexo numa fossa. Esta ideia surgiu numa viagem que costumo fazer para os lados do Cadaval e vejo lá ao fundo umas fossas a céu aberto, bem bonitas, e que pouco reflectem sem ser a ganância e falta de responsabilidade de quem fez com que essas crateras escavadas na terra que servem para guardar dejectos de animais existissem. Uma metáfora da infame ganância e ambição humana desmedida que tem como reflexo um futuro baço, dúbio, que no fundo nem reflexo tem!

Agnus Dei


Esta pintura resulta daquilo que às vezes me acontece, uma espécie de visões, inconsequentes às vezes, aparentemente incoerentes. deve acontecer assim com imensas pessoas. Acho eu. Esta pintura é então uma apropriação, uma interpretação de uma pintura barroca da “Josefa d’Obidos”, de um dos seus inúmeros Agnus Dei. Representa um cordeiro quase submerso numa matéria, uma espécie de crude massudo, ou lama e acena com a sua patinha até uma próxima. O Cordeiro de Deus.

O Herói Nacional



Esta pintura representa um sujeito, com pinta de futebolista gingão, símbolo da glória, da ascensão social e monetária, símbolo de reconhecimento e por isso símbolo de poder. Este sujeito é um modelo, um módulo, um exemplo a seguir, aparece aqui como um guardião, o porta-estandarte de um cultura, o símbolo de uma nação. A Nação portuguesa. Terra de grandes feitos. Por de trás deste sujeito um rebanho espezinha um conjunto de livros. Esta personagem é também um guardador de rebanhos, um “Pastor”.
A partir desta pintura surgiu-me outra, uma pintura redonda onde figura uma representação do Herói Nacional, uma escultura, um belo exemplo de uma homenagem aos nossos mais nobres heróis. Este monumento não se sabe se é póstumo ou não. De qualquer maneira evidencia ter sido abandonado no meio de uma rotunda rodeada de uma estrada em terra batida e lamacenta. Esta massa de pedra esculpida parece quase flutuar na lama.

Redenção Era Morrermos todos Assados


Nesta pintura vemos 4 personagens rodeadas de pequenas esculturas.
Esta pintura foi composta a partir de uma outra chamada “ Et In Arcádia Ego” do pintor francês Poussin. Na pintura que fiz o pastor central tem uma função de “médium”, uma espécie de interlocutor de uma força superior exterior ao plano térreo que envia através dele uma mensagem, enquanto na pintura original o pastor lê a inscrição feita por um desconhecido, talvez pela própria morte que assim denuncia, mostra a sua existência na Arcádia, nesta pintura o próprio Homem é responsável por transformar as sentenças divinas em verbo.
Esta mensagem é de redenção e, esta redenção é uma inevitável caminhada para um fim absoluto. A destruição pelo fogo. O fogo que tem uma função destruidora que se transforma na possibilidade de um novo começo também.
A personagem central é um artista, ou um sujeito com capacidade de moldar a matéria em construções, formas. É um ser capaz de produzir objectos estéticos, figurativos, representações e, pode usar essa habilidade para evocar os feitos dos outros homens, ou inspirá-los a acções, sentimentos, feitos. Este ser criador tem a capacidade de representar a História. Estes objectos, ou esculturas neste caso são os “despojos da história”, aquilo que ficou para trás, os impérios, a sede de poder, a autoridade, a repressão, a força bélica, etc. Esta é mais ou menos a ideia que tive para fazer esta pintura que deu bastante trabalho a acabar devido às suas dimensões, mas também pelas indecisões na sua construção.
Tento com esta pintura dizer que o artista tem um papel importante no tempo e no espaço onde existe, deve alertar e sensibilizar os que o rodeiam. Acho!

O Grande Incêndio da Rua António Maria Cardoso



Esta pequena pintura representa uma grande lareira onde se queimam variados documentos, livros papeis de todos os tamanhos, embrulhados ou soltos. Esta pintura foi pensada e composta a partir de uma fotografia de um antigo livro chamado "DOSSIER DA PIDE" publicado logo a seguir ao acontecimento do 25 de Abril de 1974, um entre muitos outros que o meu pai foi coleccionando durante essa época de formação política para ele, e anos mais tarde para mim também. Lembro-me dessa fotografia desde pequeno e de como todo aquele monte de papeis a serem à pressa destruídos me impressionou. Na altura não percebia muito bem o que aquilo era verdadeiramente, mais tarde percebi que eram as fichas e documentação sobre os presos políticos, e que essa fornalha se situava na rua António Maria Cardoso. Hoje em dia este edifício é um condomínio fechado ou lá o que é -muito bonito.

Essa fotografia ficou na minha memória ao longo dos anos, e em 2009 surgiu a ideia de fazer alguma coisa com ela, o resultado foi esta pintura.

Exposição na 3+1

Mais longos meses de ausência no cibermundo dos blogues! SETE longos meses!
Fica aqui uma aspecto da minha exposição na Galeria 3+1 Arte Contemporânea em Lisboa que decorreu de 26 de Fevereiro a dia 17 de Abril, já acabou, para que não passou por lá fica um aspecto da coisa!
A exposição chamava-se "Um Dia Destes", escolhi este título por achar que exprime um futuro dúbio no tempo em que chegará e no tempo que durará, incerto naquilo que será. Um dia destes porque nos prometeram (e, nós convencemo-nos disso) o advento da prosperidade, da felicidade, do conforto, de que podemos dormir descansados, porque um dia destes vai ser melhor!