domingo, 16 de outubro de 2011

Residentes





























Em Abril último participei numa exposição no Atelier-Museu António Duarte nas Caldas da Rainha. Foi uma exposição que encerrava de alguma maneira o periodo de residência nos atelieres do museu, ficam aqui umas fotos e um texto que escrevi sobre a exposição, um pouco romantizado, pois sim! Passados estes meses já não tenho tanta certeza de esta experiência expositiva tenha resultado. Mas gostei imenso de ter feito isto assim!



Algum tempo no seu ateliê, usou-o, habitou-o. Alguns meses passaram e alguns objectos nasceram.


O tempo passou. As coisas cresceram.



Esta instalação funciona como um mapeamento do método de trabalho usado pelo sujeito que habitou o espaço. São referências que constroem uma projecção de uma ideia final. Referências que ficcionam um projecto. Os objectos, as pinturas, os desenhos, os livros, as tintas acumuladas nas roupas e nos suportes, as fotografias, os discos existem enquanto um todo, fragmentos de um projecto em desenvolvimento, pedaços de uma linha de entendimento, de consciência, de pensamento, criada e percorrida pelo seu executante, em constante estado de estudo e de, como registo do tempo, daqueles meses de trabalho. Encontramos ideias mais ou menos coerentes, amadurecidas e estudadas que fazem parte de um projecto artístico idealizado mas não concluído, não conclusivo, não encerrado, sujeito a mudanças, avanços e recuos onde proliferam um conjunto díspar de assuntos, a partir dos quais podemos apenas imaginar afinidades e pontos de contacto, sem que eles sejam claros ou de todo existentes. Esta colecção de objectos fragmentados indiciam e ficcionam uma espécie de mapa das ideias a desenvolver, dos interesses do artista, das suas memórias, das relações afectivas e emocionais deste com a própria criação, com os seus próximos, com o espaço que o envolve, com o contexto sociológico, político e cultural em que existe. Um processo desenhado na tentativa de criar através destas disparidades formais e teóricas. Como uma tentativa de organizar o caos, fazer existir a partir de fragmentos dispersos, num comparável processo místico genesíaco, não esquecendo todavia a frágil veracidade, a dúbia realidade destes fenómenos esotéricos de compreensão do cosmos e dos seres. O imagético pictórico, a simbologia e os significados presentes neste conjunto de objectos prestam-se a funcionar como metáforas de um entendimento daquilo que é imanente no humano. O conjunto de objectos, para além de constituir um quase diagrama, um dispositivo, um enunciado de ideias e símbolos que na sua leitura conjunta nos podem fazer construir uma ideia sobre a índole, a substância formal e conceptual do trabalho artístico em questão, são num entendimento mais geral e alargado, a prova da vivência de um individuo em determinado espaço e tempo, um sujeito que existe, um sujeito que cria, que faz existir, um Ser Humano. Este ser existente através da sua criação artística traduzida na produção de objectos faz assim uma oferta: a sua criação. Estes objectos estão impregnados dos seus pareceres, das suas ideias, das suas impressões, daquilo que faz o humano sê-lo.



Quais pedras lançadas ao mar na esperança que flutuem, que não se afundem na memória turvada pelo tempo.



Tiago em abril de 2011

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