Algum tempo no seu ateliê, usou-o, habitou-o. Alguns meses passaram e alguns objectos nasceram.
O tempo passou. As coisas cresceram.
Esta instalação funciona como um mapeamento do método de trabalho usado pelo sujeito que habitou o espaço. São referências que constroem uma projecção de uma ideia final. Referências que ficcionam um projecto. Os objectos, as pinturas, os desenhos, os livros, as tintas acumuladas nas roupas e nos suportes, as fotografias, os discos existem enquanto um todo, fragmentos de um projecto em desenvolvimento, pedaços de uma linha de entendimento, de consciência, de pensamento, criada e percorrida pelo seu executante, em constante estado de estudo e de, como registo do tempo, daqueles meses de trabalho. Encontramos ideias mais ou menos coerentes, amadurecidas e estudadas que fazem parte de um projecto artístico idealizado mas não concluído, não conclusivo, não encerrado, sujeito a mudanças, avanços e recuos onde proliferam um conjunto díspar de assuntos, a partir dos quais podemos apenas imaginar afinidades e pontos de contacto, sem que eles sejam claros ou de todo existentes. Esta colecção de objectos fragmentados indiciam e ficcionam uma espécie de mapa das ideias a desenvolver, dos interesses do artista, das suas memórias, das relações afectivas e emocionais deste com a própria criação, com os seus próximos, com o espaço que o envolve, com o contexto sociológico, político e cultural em que existe. Um processo desenhado na tentativa de criar através destas disparidades formais e teóricas. Como uma tentativa de organizar o caos, fazer existir a partir de fragmentos dispersos, num comparável processo místico genesíaco, não esquecendo todavia a frágil veracidade, a dúbia realidade destes fenómenos esotéricos de compreensão do cosmos e dos seres. O imagético pictórico, a simbologia e os significados presentes neste conjunto de objectos prestam-se a funcionar como metáforas de um entendimento daquilo que é imanente no humano. O conjunto de objectos, para além de constituir um quase diagrama, um dispositivo, um enunciado de ideias e símbolos que na sua leitura conjunta nos podem fazer construir uma ideia sobre a índole, a substância formal e conceptual do trabalho artístico em questão, são num entendimento mais geral e alargado, a prova da vivência de um individuo em determinado espaço e tempo, um sujeito que existe, um sujeito que cria, que faz existir, um Ser Humano. Este ser existente através da sua criação artística traduzida na produção de objectos faz assim uma oferta: a sua criação. Estes objectos estão impregnados dos seus pareceres, das suas ideias, das suas impressões, daquilo que faz o humano sê-lo.
Quais pedras lançadas ao mar na esperança que flutuem, que não se afundem na memória turvada pelo tempo.
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